SEMINÁRIOS EM ENTOMOLOGIA I - 2025.1

 

CLUBE SECRETO DA POLINIZAÇÃO: QUEM SÃO OS TÁXONS NEGLICENCIADOS?

Data: 14/05/2025 às 14h

Local: Auditório da PRPG

Discente: Larissa Cristina da Silva

Resumo. A polinização é um processo que ocorre quando há transferência de pólen entre os órgãos reprodutivos de uma flor, podendo ser mediada por  agentes abióticos e bióticos.  Os insetos estão entre os agentes bióticos, atuando como visitantes florais em busca de recursos florais, como néctar e pólen. Estes visitantes florais podem ser polinizadores efetivos, quando de fato contribuem para o processo de polinização, como também podem ser polinizadores ocasionais, ou seja, coletam recursos, mas nem sempre estão contribuindo com o processo de polinização. A grande maioria dos insetos polinizadores pertencem às ordens: Hymenoptera, Lepidoptera, Coleoptera e Diptera. Esses táxons possuem suas contribuições bem documentadas e geralmente são foco de muitos estudos de polinização, o que aumenta a compreensão a respeito das relações entre esses insetos e as plantas. No entanto, outras ordens ainda carecem de informações acerca de sua contribuição em sistemas de polinização. Neste sentido, pouco se conhece sobre os grupos que possuem um estágio de vida aquático, e suas possíveis contribuições para a polinização de angiospermas. Pesquisas recentes buscaram compreender se insetos das ordens Megaloptera, Trichoptera, Plecoptera e Ephemeroptera atuam como polinizadores. Entre os resultados dessas pesquisas, foram apresentados registros inéditos de uma espécie de Plecoptera como polinizadora de uma espécie de Hamamelidaceae e uma espécie de Megaloptera como co-polinizadora de uma espécie de Theaceae. Esses novos registros são importantes para demonstrar a contribuição de táxons negligenciados como polinizadores primários  ou co-polinizadores, ampliando ainda a compreensão sobre redes de interação. Assim, evidencia-se a necessidade da conservação desses agentes bióticos e da importância de estudos que busquem ampliar as informações biológicas e ecológicos desses táxons neglicenciados.

Artigo base: From Stream to Bloom: Exploring the Potential Role of Aquatic Insects for Pollination in Wetland Environments.

 

BIODIVERSIDADE FORA DE TOM: COMO Harmonia axyridis (Pallas) (COLEOPTERA: COCCINELLIDAE) PREJUDICA A HARMONIA DE ECOSSISTEMAS

Data: 21/05/2025 às 14h

Local: Auditório da PRPG

Discente: Caio Victor de Brito Remigio

Resumo. A homogeneização da biodiversidade local é um dos maiores problemas biológicos atuais. O crescimento abrupto de populações de organismos introduzidos e seu potencial como espécie invasora ocasiona consequências ecológicas. Dentre as diversas espécies introduzidas com enfoque agrológico, as joaninhas (Coleoptera: Coccinellidae) são amplamente utilizadas no controle biológico de pragas, sendo uma ferramenta importante no manejo integrado. Harmonia axyridis (Pallas), uma espécie nativa do leste asiático, se tornou a mais destacada, tanto por seu uso frequente quanto por ser amplamente estudada. Essa preferência se deve ao seu hábito polífago, ou seja, sua capacidade de se alimentar de diversas fontes, e sua grande adaptabilidade a diferentes ambientes. Porém, a introdução dessa espécie em várias regiões do mundo para o controle de pragas trouxe consequências inesperadas. Ao se estabelecer em novos habitats, H. axyridis tornou-se uma espécie invasora, competindo com a fauna local e causando desequilíbrios ecológicos. Sua voracidade por diferentes alimentos (incluindo outros insetos e plantas) reduz a biodiversidade e pode causar prejuízos econômicos quando ataca cultivos. Além disso, essa joaninha possui uma vantagem competitiva única: seus ovos são protegidos por uma relação simbiótica com bactérias que os tornam tóxicos para predadores, ou seja, H. axyridis pode comer ovos de espécies competidoras, mas os ovos de H. axyridis não, garantindo sua dominância. Outro problema é seu  comportamento de agregação, formando grandes grupos em construções humanas, o que pode danificar estruturas e interferir em atividades cotidianas. Esses fatores mostram como uma espécie introduzida para o controle de pragas pode transformar-se em uma nova ameaça ao ecossistema. Desde então, há
uma demanda de novas técnicas e estratégias que busquem mitigar a ação de H. axyridis em ambientes nos quais esta espécie se tornou invasiva. O caso de Harmonia serve de alerta para as consequências da liberação de agentes de controle biológico exóticos no ambiente.

Artigo base: The interaction of Serratia bacteria and harmonine in harlequin ladybird confers an interspecies competitive edge.

 

PONTES PARA A BIODIVERSIDADE: COMO PRESERVAR O QUE NÃO CONHECEMOS?

Data: 21/05/2025 às 15h

Local: Auditório da PRPG

Discente: Josienny Cássia Silva de Lima

Resumo. A vida nas regiões tropicais costuma ser mais diversa que em outras áreas do planeta contemplando cerca de 70% de toda entomofauna mundial. Um dos fatores dessa alta biodiversidade está ligada a energia que flui nesses locais, provenientes de uma maior incidência de luz solar, combinada com a chuva e nutrientes do solo, levando assim, a um maior crescimento das plantas, consequentemente, favorecendo o desenvolvimento dos mais diversos  animais. Ainda assim, pouco se conhece dessa fauna. Valendo-se disso, o artigo escolhido, para o debate, visa elencar as dificuldades e oportunidades no monitoramento de insetos na porção Sul do Globo, porção essa, marcada socioeconomicamente por desigualdade, dependência econômica e marginalização política. Os autores se embasam em duas metodologias de pesquisa: i) questionário entre cientistas locais; ii) e em uma revisão bibliográfica levantando mais de 30 anos de estudos. Trazendo como principais achados, a ínfima quantidade de trabalhos sobre biomonitoramento e declínio dos insetos, além de,  destrinchar os desafios encontrados pelos pesquisadores desses locais e possíveis estratégias que visam mitigar essa discrepância, quando comparada com o Norte Global. Além de, trazer questionamentos implícitos, como: i) Que tipo de profissional queremos ser, entendendo a discrepância entre as diferentes demandas entre o mercado e o perfil dos pesquisadores do Sul e do Norte Global? ii) e em que áreas queremos efetivamente atuar? Visando assim, construir
pontes para o conhecimento e preservação dessa biodiversidade, visto que, é impossível preservar algo que ainda não conhecemos.

Artigo base: Systematic challenges and opportunities in insect monitoring: a Global South perspective

 

ESTABELECIMENTO DA MICROBIOTA INTESTINAL E SEUS IMPACTOS EM FÊMEAS DE Aedes aegypti

Data: 28/05/2025 às 14h

Local: Auditório da PRPG

Discente: Géssica dos Santos Silva 

Resumo. O aumento de focos do potencial vetor de patógenos Aedes aegypti em determinadas regiões, mostra a necessidade de mais pesquisas com foco em sua fisiologia para elaborar técnicas de controle melhores e mais sustentáveis. Levando em consideração o hábito alimentar do mosquito e sua estratégia reprodutiva anautógena, estudos sobre a possibilidade de maturação no epitélio a nível celular do intestino médio de A. aegypti e se esse órgão passa por  mudanças depois da emergência são importantes. Se ocorrerem mudanças no A. aegypti, essas mudanças podem ser reguladas por fatores endócrinos, levar a um estado homeostático em fêmeas adultas e constituir um processo de maturação que torna o intestino adequado para a digestão do sangue. Além disso, o intestino médio é um reservatório de um microbioma diversificado que é afetado por diversos fatores como o hormônio juvenil, componente fundamental para regulação de diversas funções no organismo dos insetos. Diante disso, a referência chave desse tema realizou pesquisas voltadas para observar e identificar prováveis relações desse hormônio no intestino médio do inseto vetor A. aegypti; em sua microbiota; se sua imunidade é afetada pela presença da sua microbiota intestinal; a inter-relação e as possíveis conversas cruzadas entre outros parâmetros relacionados. Para isso a metodologia do trabalho foi  conduzida por meio de medições do diâmetros do intestino médio e possíveis mecanismos envolvidos nessas mudanças, como a influência do hormônio juvenil sobre a microbiota; medição da renovação celular; análise da expressão gênica; expressão de peptídeos antimicrobianos; quantificação da microbiota; longevidade e aptidão física de fêmeas em três tratamentos distintos, sendo: fêmeas virgens acasaladas, fêmeas virgens tratadas com hormônio juvenil e  apenas fêmeas virgens como controle. Os resultados obtidos podem ser considerados como uma ferramenta para ser usada na elaboração de mecanismos mais abrangentes de controle desses vetores e/ou transmissão dos patógenos.

Artigo base: Juvenile Hormone as a contributing factor in establishing midgut microbiota for fecundity and fitness enhancement in adult female Aedes aegypti.

 

PEQUENAS INVASORAS, GRANDES CONSEQUÊNCIAS: FORMIGAS ROMPEM MUTUALISMO E TIRAM OS LEÕES DAS SOMBRAS

Data: 28/05/2025 às 15h

Local: Auditório da PRPG

Discente: Maria Luísa Siqueira Santos Rocha

Resumo. As relações mutualísticas estão entre os clássicos mais fascinantes da Ecologia, por serem onipresentes e centrais no funcionamento dos ecossistemas. A simbiose formiga-planta foi o primeiro mutualismo coevolutivo a ser elucidado. Nesse sistema amplamente difundido, as plantas fornecem abrigo e recursos às formigas acácias, que, em contrapartida, as protegem da megaherbivoria, estabelecendo um mutualismo fundacional, capaz de moldar paisagens e comunidades. Entretanto, esse tipo de interação é altamente sensível a perturbações, e sua ruptura desencadeia efeitos ecológicos em cascata podendo afetar até interações entre predadores e presas não diretamente relacionadas, como leões e zebras. Tal hipótese foi testada entre 2017 e 2020 na unidade de conservação Ol Pejeta Conservancy, no condado de Laikipia, Quênia, uma área de 364 km2 de savana sujeita a variações na visibilidade e na ocorrência de uma formiga invasora (Pheidole megacephala). Inicialmente, foi medido o impacto da ruptura do mutualismo entre plantas e formigas acácias sobre a vegetação, algo provocado pela substituição da formiga nativa pela invasora. Em seguida, para investigar se a abertura da paisagem afetava a dinâmica predador-presa, aplicou-se uma análise de trajetória aninhada, que avaliou se a maior visibilidade, mediada pela invasão da formiga, coincidia com maior frequência de zebras predadas. Os resultados mostraram que a ocorrência conjunta de P. megacephala e megaherbívoros triplicou a abertura da paisagem, tornando o ambiente menos favorável à emboscada por leões. Consequentemente, a presença da invasora se relaciona negativamente com as taxas de zebras abatidas. Assim, conclui-se que a interação entre leões e zebras é mediada por esse mutualismo fundacional, e que a introdução da formiga invasora tem  potencial para redirecionar fluxos tróficos. Dado que a troca de recursos é um princípio importante para a estabilização demográfica, um pequeno invasor, ao comprometer interações basais, pode reconfigurar a dinâmica predador-presa entre espécies icônicas.

Artigo base: Disruption of an ant-plant mutualism shapes interactions between lions and their primary prey.

 

TÉCNICA DE INSETOS ESTÉREIS E TÉCNICA DE INSETOS INCOMPATÍVEIS, ALTERNATIVAS EMERGENTES AOS INSETICIDAS PARA O CONTROLE DE MOSQUITOS ADULTOS

Data: 04/06/2025 às 14h

Local: Auditório da PRPG

Discente: Jorge Luiz Farias de Souza

Resumo. Existe uma preocupação muito grande, por parte dos órgãos de saúde pública, com os mosquitos adultos, pois estes transportam patógenos e são vetores de muitas doenças infecciosas como: Dengue, Zika, Chikungunya e do Nilo Ocidental. O manejo integrado de mosquitos inclui o controle biológico e reguladores de crescimento das larvas e a utilização de inseticidas adulticidas organofosforados (Naled) e piretróides (Permetrina), que visam a redução da população dos insetos adultos. O uso de inseticidas adulticidas, pode provocar efeitos secundários como: resistência, não-alvo e sérios impactos à saúde humana. Em virtude desses efeitos secundários ocasionados pelo uso de inseticidas adulticidas, surgem Técnicas emergentes de controle de mosquitos adultos, como podemos citar: Técnicas de insetos estéreis (SIT), Técnicas de insetos incompatíveis (IIT) e utilização de mosquitos geneticamente modificados, tomando como exemplo: os mosquitos da Oxitec, sendo estas técnicas, adotadas cada vez mais com sucesso. A SIT, consiste na esterilização dos mosquitos machos através do uso da radiação e sua liberação na natureza visando o acasalamento com fêmeas selvagens. A IIT, consiste na liberação de insetos estéreis infectados com Wolbachia que são incapazes de produzir descendentes após o acasalamento com uma fêmea selvagem. Os mosquitos geneticamente modificados da Oxitec, empresa de biotecnologia, utilizam uma abordagem RIDL para inserir o transposon LA513 no mosquito, de modo que a sua prole morra na fase larval. As três técnicas anteriormente citadas, vem se tornando popular como forma ecologicamente corretas de controle de mosquitos adultos que podem complementar o uso de inseticidas adulticidas (Naled e Permetrina) no manejo integrado de pragas.

Artigo base: Sterile insect technique and compatible insect technique, emerging alternatives to insecticides for adult mosquito control.

 

EFEITOS DA LUZ ARTIFICIAL NA ORIENTAÇÃO ESPACIAL DOS INSETOS: IMPLICAÇÕES DO MODELO DE RESPOSTA DORSAL À LUZ (DLR)

Data: 04/06/2025 às 15h

Local: Auditório da PRPG

Discente: Valeri Jassira de Almeida Utia

Resumo. Insetos noturnos frequentemente são encontrados ao redor de luzes artificiais, um comportamento amplamente observado, mas ainda não totalmente compreendido. Explicações tradicionais, como a navegação baseada na lua ou a atração pelo calor, foram propostas, mas carecem de suporte experimental robusto. Este seminário apresenta os principais resultados de um estudo recente que investiga esse fenômeno sob uma nova perspectiva: a resposta dorsal à luz (DLR), um reflexo postural que orienta o dorso do inseto em direção à parte mais iluminada do céu. Para testar essa hipótese, os autores usaram captura de movimento de alta resolução para reconstruir, em 3D, as trajetórias de voo de insetos em laboratório; também aplicaram videografia estereoscópica para registrar o comportamento de insetos silvestres voando ao redor de luzes artificiais. As análises se concentraram no ângulo entre o dorso do inseto e a fonte de luz, e na geometria da trajetória de voo. Os dados revelaram que os insetos não voam diretamente em direção à luz, mas alinham seu dorso a ela, resultando em trajetórias perpendiculares à fonte. Esse padrão é causado pela ativação do reflexo DLR, que em ambientes naturais auxilia no controle postural durante o voo. No entanto, sob luz artificial intensa e próxima, esse mecanismo falha, causando desorientação e retenção ao redor da luz. O estudo fornece evidências claras de que a atração dos insetos pela luz não é uma ação ativa, mas uma consequência de um sistema de orientação desadaptado às condições artificiais. Essa descoberta tem implicações importantes para entender os impactos da iluminação artificial na ecologia dos insetos.

Artigo base:  Why flying insects gather at artificial light.